O CANTO DOS POETAS
A Poetisa do Sado
Mariana Angélica de
Andrade nasceu em Casa
Branca , Sousel, em 11 de Maio de 1840. Era filha de Joaquim António
Serrano, poeta, escritor e jornalista do Diário de Notícias e de Francisca
Pereira da Silva. Aos 4 anos veio para Setúbal, onde vivia a sua madrinha que a
criou e educou. Mariana adoptou de sua madrinha Gertrudes Angélica d’ Andrade
os apelidos que usava. Provavelmente, viveu na Rua Nova da Conceição (actual
Av. 5 de Outubro), no nº 21.
Não existem rastos sobre a
aprendizagem escolar da poetisa. Contudo, dada a situação do sistema educativo
português da altura – 1846-1850 – é natural que Mariana tenha frequentado o
ensino privado ou tenha tido uma preceptora, solução que as famílias mais
abastadas encontravam para dar alguma instrução às suas filhas. A madrinha de
Mariana fazia parte das famílias burguesas da cidade, já que era viúva de um
rico proprietário, e foi umas das pessoas que mais contribuiu para a existência
e manutenção do Asilo da Infância Desvalida de Setúbal.
Casou
civilmente em 1874 com o escritor, filólogo e poeta António
Cândido de Figueiredo com o qual se correspondera durante anos e que estimulou
a sua actividade poética. Foi desta troca de correspondência que o amor nasceu
entre eles, sendo Cândido de Figueiredo ainda estudante em Coimbra. Depois do
casamento foi viver para Lisboa, na Calçada do Duque 13-2º. Teve duas filhas –
Rosalinda e Corina. Estas tinham, respectivamente, 7 e 5 anos quando Mariana
Angélica faleceu às 3 horas da madrugada, em 14 de Novembro de 1882, aos 42
anos, vítima de tuberculose pulmonar. Foi enterrada no dia 16 de Novembro, às
11 horas da manhã, no Cemitério Ocidental, hoje Cemitério dos Prazeres.
A
morte de Mariana foi noticiada na Gazeta
Setubalense, no Diário de Notícias,
no Século, no Jornal do Comércio, no Distrito
de Viseu, no Jornal Ilustrado, no
Jornal da Noite, no Viriato, no Diário de Portugal, no Comércio Português e em outros jornais e
revistas onde a poetisa colaborou o que demonstra a consideração, o apreço e a
admiração pela mesma.
O Distrito
de Viseu noticiou deste modo a sua morte:
«Era uma
senhora muito instruída e prendada. Os formosos versos que publicou em vários
jornais deram-lhe o cognome de «A Poetisa do Sado».
Admiravam
a sua obra nomes consagrados na literatura da época, como António Xavier Cordeiro, Gonçalves Crespo, Júlio
César Machado, Feliciano Castilho, João Penha Alberto Pimentel, Simões Dias e
Gomes de Amorim.
Mariana
Angélica foi uma pessoa culta, conhecedora de Camões, Filinto Elísio, Nicolau
Tolentino, Marquesa de Alorna, Publia de Castro, Bocage, Almeida Garrett,
Feliciano de Castilho, Alexandre Herculano,
Soares dos Passos, Camilo C. Branco, João de Deus, Gomes de Amorim e Simões
Dias, Ana Plácido, entre outros. Também conhecia Molière, Victor Hugo e outros
autores estrangeiros dos quais traduziu, para português, romances que foram
publicados em folhetins em alguns dos jornais e revistas onde colaborou.
Um
dos aspectos que a preocupava era a Edu cação
em geral e a das mulheres em particular, tendo abordado este assunto por várias
vezes nas publicações onde colaborava e que foram transcritos por outras
publicações da época.
Tratou
temas relacionados com problemas políticos e sociais do seu tempo em muitos dos
seus poemas – a guerra, a injustiça, a pobreza, a liberdade – que foram
recitados em várias ocasiões, em festas e recitais em Setúbal.Verifica-se na obra poética a sua
revolta, a sua insatisfação, a sua mágoa com o facto de ser mulher.
Mariana Angélica d’Andrade
começou a escrever muito cedo poesia; o poema “Estações da Vida”, publicado no
seu primeiro livro, Murmúrios do Sado,
tem a data de 1854.
A sua primeira
obra, Murmúrios do Sado, foi
publicada em 1870, em Setúbal, e prefaciada por Cândido de Figueiredo. Esta
obra mereceu a atenção do Grémio Literário do Brasil tendo sido lavrado à
autora diploma de sócia honorária.
A obra Revérberos do Poente foi publicada postumamente em 1883, no Porto,
com prefácio de Gomes de Amorim. Também As Rimas
Selectas foram publicadas postumamente em 1917, por Nuno Catarino Cardoso,
na antologia Poetisas Portuguesas.
Mariana
Andrade também escreveu artigos de opinião e de crítica, contos, fantasias e
duas comédias; alguns que estão publicados, outros que deixou inéditos. A
comédia As Esporas do Alferes foi
estreada em Setúbal em 1870 e representada pelo actor José Romano.
Foi redactora da Gazeta Setubalense e da Grinalda Literária, colaborou no jornal Aspirações, na Voz Feminina (1868-1869), Almanaque
de Senhoras (1871), Almanaque de
Lembranças (1867) e em periódicos de Lisboa (Gazeta das Salas, 1877), Coimbra e Porto.
POESIA E MULHER
Celeste dom
da poesia,
Jóia
sem preço, calcada
Aos
pés da turba, que insulta
As
desventuras do génio.
Camilo Castelo Branco
Porque me vens tu arcanjo da poesia,
Com teu estro de brilho cintilante,
Com fogo divinal que a fronte queima,
Esta
alma extasiar?!
Eu sinto-me
inspirada!... mas o mundo
Maldiz os sons
da lira, afronta o génio
Que procura
elevar-se, em asas de oiro,
Acima
do vulgar!
Com loucos
preconceitos ouve os hinos,
- Hinos que
não conhece e não entende;-
Vozes d’alma
sinceras que condena
Por não as compreender!
E mais a
escarnece quando sabe
Que vêm d’uma
mulher os sons que escuta!
Á vítima
inocente nem lhe é dado
Prantos
deixar correr!
Só pode ser
feliz, ou ser querida,
A mulher que
em salões pompeia galas,
Os gestos, a
maneira, e em mil requebros
Sorri-se ternamente!
Que em vasto
coração, se o tem acaso,
A muitos
pretendentes presta asilo…
E o falso amor
que se desata em risos,
Reparte
largamente!
Mas se odeia a
vaidade mentirosa,
Mira outra
luz, tem outra senda aberta:
Precisa doutro
amor, quer outro brilho
Que
não há nos salões!
Ama a luz
radiante do talento,
Idolatra a
poesia, abraça a lira,
E sonha melhor
mundo, embora este
Lhe
roube as ilusões!...
Poesia! Se dás
glória eu não a gozo;
Se dás palmas
a quem a vida enturvas,
São elas tão
exíguas que não chegam
A
mim pobre mulher!
Que
importa!... Se não cinjo verdes louros
Nem possuo os
troféus que dás a custo,
Cânticos são
riqueza de minha alma,
Nem
outra glória quer.
Eu sinto-me
enlevada quando penso
Em ti, meu
terno amor, meu doce encanto.
O mundo que me
veja e tenha zelos
Desta
funda paixão!
Seus risos
insensatos não me afligem;
Mas se ele me
partisse a pobre lira…
Ai de mim!...
também ele aniquilava
Meu
triste coração!
MISTÉRIOS DO TOUCADOR
Cassilda foi ao
baile, e tão formosa
Que fez inveja a
todas as senhoras;
Muito embora gentis,
encantadoras,
Nenhuma era tão bela
e majestosa.
Tinha a cútis rosada e cetinosa
Tinha no olhar o brilho das auroras,
Tinha no olhar o brilho das auroras,
Tinha as formas perfeitas, sedutoras;
E ela passava altiva e donairosa.
De valsas e sorrisos fatigada,
Assim falou depois com a criada
A sós, ao toucador vendo as feições:
A sós, ao toucador vendo as feições:
« Fui rainha do baile! Que patetas
São os homens!... Recolhe nas gavetas
Os dentes, o cabelo, os algodões…»
SETÚBAL ANTIGA
OS NOSSOS POETAS
BOCAGE
As mensagens de amor
Para gente sem grandeza
Informam o predador
Que ali está mais uma presa.
A História está aí
A dizer-nos que a brandura
É sumo de abacaxi
Que refresca a ditadura.
Os violentos até pagam
Aos mestres em letargia
Para que humildes tragam
Os utentes da coxia.
Nenhum monstro abdica
Da sua monstruosidade
Só porque a presa estica
A sua docilidade.
O primeiro acto do Bem
É combater contra o Mal
E não prostrar o refém
Com cânticos de Natal.
Teorias há aos montes,
Só que a realidade
Mostra que os brutamontes
São os donos da Cidade!
SETÚBAL ANTIGA
OS NOSSOS POETAS
BANCO
DE JARDIM
Sou um banco de jardim
Tão simples que ninguém repara em mim
Estou um pouco esfolado, é certo
E até um pouco encoberto
Mas o que vi e ouvi,
Desde que estou aqui
É tão forte em emoção
Que preciso de partilhar
O que trago no coração
São muitos risos e galhofas
De meninos turbulentos
São muitos gritos e zangas
De adultos quezilentos
E eu sempre calado!
Assisti ao primeiro beijo
De um par apaixonado
E quando anos mais tarde
Ele a pediu em casamento
Estavam mesmo ao meu lado.
Como me lembro desse momento!
Ouço os relatos do futebol,
As queixas dos mal-amados
Confidências de vizinhas
E segredos mal guardados
Há dias fiquei preocupado
Um jovem com ar doente
Sentou-se com uma seringa ao lado
E sem motivo aparente
Delirou, delirou, delirou
E eu ali a ver
Sem nada poder fazer
Ontem uma velhinha,
Que se sentou a descansar
Tirou da sua bolsinha
Meia dúzia de moedas
E começou a suspirar
Eu sofro com estes problemas
E penso cá para mim
Que posso eu fazer
Se sou apenas
Um simples banco de jardim?
Ivone Vilares
Bocage, o grande poeta,
Em Setúbal nasceu;
Esse príncipe das
letras,
Que em Lisboa faleceu!
A rua que o viu nascer,
Foi Edmond Bartissol,
Dando-lhe a honra de
ver
A primeira vez o sol!
Foi a 15 de Setembro,
De 1765, nascido;
E aos 21 de Dezembro
De 1805, falecido!
Manuel Maria Barbosa
Du Bocage; foi
registado,
Mas por Elmano Sadino,
Na Nova Arcádia,
apelidado!
Esse vate laureado,
Em poesia nunca
vencido,
Foi poeta iluminado,
Um satírico
esclarecido!
Era oficial marinheiro,
E apesar de pai juiz,
No Santo Ofício e
Limoeiro
Teve preso o infeliz!
Sem motivo nem razão,
Nos cárceres foi
encerrado,
Mais tarde saiu da
prisão,
Do que não fez,
perdoado!
Deixou uma obra
perfeita
Da mais picante à
lírica,
E até esbanjou talento
Em espirituosa
satírica!
Eram de rara perfeição
Os seus dotes de
sonetista,
Como lesto na
intervenção,
Foi um nato repentista!
Deixou-nos
obras-primas,
Escrita Maravilhosa,
“Obras completas e
Rimas,”
De satírica
espirituosa!
O nosso Bocage deixou
Nome ilustre na
História,
O povo lhe levantou,
Em honra uma Memória!
Bocage, tu és lembrado,
Por toda a humanidade,
És o “Príncipe Coroado”
Desta bela e nobre Cidade!
Luís Francisco Chainho
REALISMO
As mensagens de amor
Para gente sem grandeza
Informam o predador
Que ali está mais uma presa.
A História está aí
A dizer-nos que a brandura
É sumo de abacaxi
Que refresca a ditadura.
Os violentos até pagam
Aos mestres em letargia
Para que humildes tragam
Os utentes da coxia.
Nenhum monstro abdica
Da sua monstruosidade
Só porque a presa estica
A sua docilidade.
O primeiro acto do Bem
É combater contra o Mal
E não prostrar o refém
Com cânticos de Natal.
Teorias há aos montes,
Só que a realidade
Mostra que os brutamontes
São os donos da Cidade!
Francisco Pratas
SENDO DIFERENTES, MAS IGUAIS!
O mundo, um dia achar sabedoria,
Quando então souber compreender,
Nesta vida tudo muda e varia,
Todos os dias estamos a aprender!
Na verdade, parecemos todos iguais,
Mas nesta parecença; somos diferentes,
Conquanto há os que se parecem mais,
Pensando até serem os mais inteligentes!
Mas tal como os frutos e as flores,
Que nos podem mais atrair e agradar,
Sendo variadas e lindas suas cores,
Por serem diferentes têm variar!
Assim acontece com a humanidade,
Distinguindo-se pela cor da pele ou raça!
Diferentes, mas sem haver desigualdade,
Atendendo à sua condição de sua graça!
As pessoas, sendo seres especiais,
Seres únicos no conceito da criação,
Será impossível encontra dois iguais,
Aos diferentes daremos mais dedicação!
É nessa desigualdade encontrada,
Que pomos à prova o nosso carinho,
À humanidade deve ser apresentada,
A obra desenvolvida neste cantinho!
J. Rodrigues
OS LIVROS DOS AMIGOS
MARIA HELENA
ACREDITA
A poesia não nasce dum mito
tão pouco dum sonho
tão pouco dum grito.
Poesia nasceu
num gesto de dádiva
nasceu aqui no gesto aberto da minha mão.
FAZ ISSO
Se ao leres meus versos
conseguires cantar
canta.
É fácil o meu poema!
é como fechar os lábios
em gesto mimado.
Se souberes rezar
reza.
Une os braços e aperta os laços
das rosas que caem pelo teu
regaço
Nisso se resumem as palavras
que não escrevi, as que senti
no suave encanto
do que já sonhei
e não vivi.
OS NOSSOS CONTOS
O PEQUENO MALMEQUER
Havia em pequeno malmequer muito pequenino com muitas
flores com os olhitos amarelos que vivia num lindo jardim à beira da estrada já
perto do bosque dos rouxinóis, onde havia muitas, muitas formigas que tinham o
seu formigueiro debaixo do tronco de uma árvore já envelhecida e que andavam
muito irrequietas e atarefadas a encher o seu celeiro porque o Inverno se
aproximava, ia chover e já não podiam sair de casa.
Uma delas era muito vaidosa e dizia que conseguia
carregar sementes muito grandes, maiores e mais pesadas que o seu próprio
corpo, e dizia que era ela quem carregava mais para o celeiro.
No meio de tantas centenas destes insectozinhos, eu
conhecia bem a laboriosa formiga, que de tão atarefada que andava, muitas vezes
nem me dava os bons dias.
Até me parecia uma formiga maior que as outras, talvez
por ser fêmea, pois os machos são menores.
Um dia trouxe uma semente de girassol, mas na entrada
do formigueiro, depois de renhida luta, veio o cansaço e o desespero! Depois o
desalento e por fim a desistência.
A enorme semente não coube na entrada e teve que ficar
ali dias e dias, até que a chuva chegou e enterrou a semente na terra arenosa
que circundava a entrada do seu celeiro. Depois voltou a chover e a semente germinou,
cresceu, cresceu, apanhou mais umas chuvadas na Primavera e ficou enorme.
Estava já uma linda planta, com mais de um metro de
altura e cheia de grossas folhas verdes e com muitos botões de flores que
brevemente iriam abrir!
E assim foi, eu até me sentia pequenino ao pé dela e
também me preocupava com as flores enormes que iriam deixar tristes os meus
malmequerzinhos também prestes a abrir.
Chegou o Verão, e era vê-los girar com o sol, todos
abertos, gigantes malmequeres amarelos doiro, sorrindo para o sol.
Um dia um lenhador passou por ali e comentou: - Como
veio nascer aqui afastado do jardim este girassol tão grande e com tantas
flores? ! ....
Os meses foram passando, as pétalas caindo e uns
enormes círculos acastanhados ficaram com tantas sementes que logo os pássaros
começaram a comer e aquele espaço se tornou muito animado e muito visitado
pelas mais variadas aves.
Na sua correria de sempre as formigas nem se
apercebiam da festa que havia por cima do seu formigueiro. Mas ainda sobraram
muitas sementes que foram caindo para o chão e foram nascendo e crescendo
desordenadamente, formando um lindo jardim de girassóis no ano seguinte.
O velho tronco de árvore ficou todo coberto de flores
amarelas e em cada ano que passa.
O jardim dos girassóis está mais bonito e maior e a
nossa amiga formiga que carregava as sementes grandes, desta vez, em vez de
encher mais o seu celeiro semeou um gigantesco jardim de amarelos girassóis.
Maria
Dores Amado
pela SOPEAM (Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos).
NOTÍCIAS CULTURAIS
Decorre amanhã o almoço-convívio com "momentos de poesia" que
consta do nosso plano de actividades. Lembramos que a concentração
se faz junto ao Estádio do Bonfim (lado do jardim) pelas 9.30
O nosso sócio e colaborador Inácio Lagarto informou-nos de que
tem um blogue poético. O endereço é http://otragal.blogspot.com
consta do nosso plano de actividades. Lembramos que a concentração
se faz junto ao Estádio do Bonfim (lado do jardim) pelas 9.30
O nosso sócio e colaborador Inácio Lagarto informou-nos de que
tem um blogue poético. O endereço é http://otragal.blogspot.com
Realiza-se em Lisboa, de 26 a 29 do corrente mês, o 56º Congresso
da UMEM (União Mundial de Escritores Médicos), este ano organizado
da UMEM (União Mundial de Escritores Médicos), este ano organizado
pela SOPEAM (Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos).