domingo, 24 de fevereiro de 2013






NÚCLEO DE POESIA DE SETÚBAL

JOGOS FLORAIS DE SETÚBAL 2013
PARA A JUVENTUDE

REGULAMENTO

1 – São admitidos a concurso trabalhos inéditos em língua portuguesa nas seguintes modalidades:

                                                                POESIA
a)      QUADRASTema e rima livres. Máximo de um conjunto de três quadras por concorrente. 
b)      SONETO Tema livre.
c)      POEMA - de construção e tema livres, com um máximo de 25 linhas. Poderá ter a forma de letra para canção “rap”.
                                                                  CONTO
Tema livre.
Máximo de 2 páginas em formato A4 em letra “Times New Roman” tamanho 11.

2 – Os concorrentes deverão ter menos de 25 anos de idade na data de envio dos trabalhos. Serão divididos em duas categorias, conforme tenham mais ou menos de 14 anos.

3 – Os trabalhos serão enviados exclusivamente por correio eletrónico para o endereço quebra.lemes@gmail.com,acompanhados do nome, idade, residência postal, número de Bilhete de Identidade, número de telemóvel e declaração de que prescinde dos direitos de autor em caso de publicação no boletim ou no blogue do Núcleo de Poesia.

4 – Cada concorrente poderá apresentar dois trabalhos por modalidade, devendo declarar se aceita ou não o Acordo Ortográfico.

5 – O prazo de envio dos trabalhos para concurso termina a 7 de abril de 2013.

6 – Não será necessário pseudónimo. O membro da direção do Núcleo de Poesia que irá receber os trabalhos concorrentes não fará parte do Júri. Atribuirá um número a cada candidato e reencaminhará as mensagens para os elementos do Júri sem os dados de identificação.

7 – O Júri será constituído por três elementos indicados pela direção do Núcleo de Poesia.

8 – As classificações serão tornadas públicas em 31 de Maio de 2013, sendo os concorrentes premiados informados por “e-mail”.

9 – Haverá dois prémios por modalidade em cada grupo etário. O Júri poderá ainda atribuir Menções Honrosas, se assim o entender.

10 – Nenhum concorrente poderá receber mais do que um prémio por modalidade.

11 – Não haverá recurso das decisões do Júri.

12 – A entrega dos prémios terá lugar em data e lugar a anunciar.








COISAS DA VIDA PARA PENSAR
   
Há coisas na vida, para pensar,
E muitas, que levamos a repetir,
Há as que só uma vez, podemos realizar!
Os mentirosos estão sempre a mentir,
E os vaidosos sempre se estão a gabar!
  
Mas nascer e morrer, só uma vez,
É o princípio e o fim, desta vida,
Nem que seja, pobre ou burguês!
Ainda que seja, curta ou comprida,
Seja africano, europeu ou chinês,
   
Comemos sempre, repetidamente,
Cuidando do corpo, para vivermos,
Alguns trabalham, exaustivamente!
Mas um dia, caímos estrondosamente!
Pensam que sempre; não morreremos,


 Há os que estudam, e não tem educação,
 Há os que são educados, sem estudar,
Muitos comem, com tanta satisfação!
Outros fazem dieta, para não engordarem,
Mas é bom ser instruído, com educação!
  
Tratemos o nosso semelhante, com cortesia,
Mandam as regras, da boa educação,
Porque a desgraça, pode chegar um dia!
Assim podemos, contar com sua proteção,
E não com uma promessa, vaga e vazia!

                                      J. Rodrigues



                    EXPERIÊNCIA



                       Hoje deitei fora o sol
                 
                       Esqueci o mar

                  Não quero a esperança

                  Não consigo sonhar

                  Abri a janela e deitei fora o mundo

                  Nele foi me a alma arrastada

                  Até a rosa que me olhava

                  Debruçada da jarra murchou

                  Teimosamente vou quebrando as horas 

                  De uma maneira lenta e sofrida

                  Será com certeza para medir o tempo

                  Talvez ele assim renda menos para mim

                  E a tua ausência  não passe duma utopia

     
                                                     
Maria Helena Freire
  
         GENEROSOS

Com o dinheiro do Estado
Assistem, por caridade,
Mantendo o povo domado
Para usarem à vontade.

Educam sectariamente
À base de verbas estatais
Mantendo firme a corrente
De interesses sectoriais.

Não produzem nenhuns bens,
Mas são sempre detentores
De sortidos armazéns
De bem palpáveis valores.

Mau grado o seu estridor
Em projectos "generosos"
Cá, a pobreza é maior
Que onde não há "caridosos".

Se alguém quer dar por direito,
Dispensando a caridade,
Fica o dador contrafeito
E desaba a tempestade:

Os meios intoxicantes
Entram todos em histeria
Orientando os votantes
Para outra freguesia...

               Francisco Pratas



       ALÉM SADO


Que vejo Além Sado
na planície em sol nascente?
Campo fértil trabalhado
outro mar navegado.
Sentir de povo diferente!
Num olhar puro
espreitando Rio no espraiar...
há terra dando a mão;
sonhando com o futuro,
sempre no acreditar,
beijando saudoso chão.

Renova inverno rigoroso
com chuva a gracejar,
namorando a primavera;
alimenta o florir
até chegar o verão.
Traz calor ardiloso -
noites rubras ao luar
...acende chama à paixão.
Segue outono em arpejos
folhas secas no cair,
atento a novos desejos.

Brancas salinas, verdes montados,
que no sul estão crescendo;
quantos berços  iluminados,
em belos cantos aconchegados
no barco da vida...vão vencendo.

              Inácio J. M. Lagarto


INFINITO PODER DO PENSAMENTO

O meu cérebro percorreu como louco
As profundezas das infinitas galáxias
Etéreo sonho este, o de encontrar
Um paraíso, em vez da Via Láctea.
Veloz pensamento, mais veloz que tudo
Mais veloz até que o próprio vento
Nada há mais subtil
Que este comando cerebral
Um dom divino e real
De sair até do espaço, do horizonte
Do bem e do mal.
Pensar, querer, idealizar
Ter, porque se pensou e se agiu
Percorrer o espaço sideral
Tentar apanhar uma nuvem
E dela fazer uma cama astral
Para que além do espírito
Também o corpo possa percorrer
No azul do céu
O que não há de azul no mar.

           Maria Dores Amado



ESPAÇOS E SORRISOS

São espaços, são sorrisos,
Sorrisos entre os espaços,
Espaços entre os sorrisos.
Sorrisos parecendo traços,
Espaços breves e lisos,
Sorrisos um pouco escassos.   
Espaços quase indivisos,
Sorrisos vagos e baços,
Espaços muito indecisos,
Sorrisos de curtos passos,
Espaços um tanto imprecisos.
Sorrisos aos quilos, aos maços,
Espaços já mais incisivos,
Sorrisos já mais devassos,
Espaços agora concisos,
Sorrisos puros e crassos,
Espaços finalmente precisos,
Trazendo sorrisos nos braços.
 
                      Arnaldo Ruaz




     AGORA VEJAM ESTA FAMÍLIA!


                                                             UM AMIGO


      O que é ter um amigo? Já me questionei sobre isto inúmeras vezes.
     Naturalmente, um amigo é alguém com quem podemos contar incondicionalmente; com quem podemos partilhar as nossas mágoas e alegrias.
     Mas não é sobre estas “frases feitas” de que vos quero falar hoje. Para mim, um amigo é muito mais que isso. Um amigo é aquela pessoa que, mesmo conhecendo os nossos maiores defeitos e fragilidades, continua a gostar de nós; é aquela pessoa com quem temos longas conversas, nas quais o assunto nunca se esgota; é aquele que assiste às nossas quedas na primeira fila, mas que, quando o pano desce, é o primeiro a levantar-se para ir ter connosco. Um amigo nunca diz “eu bem te avisei” – para ele é mais importante abraçar-nos e chorar connosco. Um amigo conhece as nossas parvoíces de cor, mas acha-lhes sempre piada.
     O que há mais para dizer? Um amigo é o nosso eterno cúmplice. Sabemos que se trata de uma amizade verdadeira quando o silêncio é algo reconfortante.
     Alguém disse que um sonho é só um sonho quando o sonhamos sozinhos, mas quando o sonhamos com os nossos amigos, começa a tornar-se real.
     Ao longo da nossa vida criamos várias amizades, umas mais fortes e duradouras que outras.
     Quem nunca criou uma amizade que julgou ser eterna mas que, com o passar dos anos, se acabou por perder? Quem nunca mais viu um amigo com quem viveu alguns dos momentos mais felizes da sua vida?
      As amizades vão perdendo a intensidade com o passar do tempo. Cabe-nos a nós tentar preservar as que consideramos mais importantes e genuínas. A chave para a eternidade baseia-se na diferença entre o perdão, a paciência e o respeito e o orgulho, o comodismo e a desconfiança. Quantas amizades não acabaram pela incapacidade de reconhecer que se errou?
     Temos que confiar nos nossos amigos como confiamos nas palmas das nossas mãos. Na verdade, eles são das pessoas que mais nos querem bem.


Ana Cunha
18/01/2013

             

                            A Ana Catarina é também neta do Henrique Mateus.  

                    Tinha oito anos quando publicou este livrito 
                    de poemas.








CONTO

  (Primeira parte)
                                         
I

O lugarejo de Vale das Furnas situa-se algures na falda Sul da Serra de Grândola. É um lugar isolado longe de tudo, onde vive uma comunidade numerosa cuja actividade é trabalhar a terra. Uns trabalham o seu chão cuja área é suficiente para daí suprirem as suas necessidades. Outros trabalham à jorna nas herdades da vizinhança.
Lugar de gente boa, capaz de despir a camisa para ajudar alguém em apertos como sói dizer-se e quando nos referimos à pacatez da humildade das pessoas; aqui, funciona o espírito da interajuda para vencer a crueza do isolamento.
Se não conseguir localizar o lugar não se aflija, porque toda a história é pura ficção assente na imaginação do autor.
O lugarejo tem comércio, escola primária, e também uma ermida de arquitectura simples que, praticamente só abre as portas para a missa dominical, cuja nave fica literalmente cheia, porque toda a população é devota.
A criançada é numerosa e frequenta a escola com assiduidade, onde lecciona a professora D. Leopoldina, casada com o Sr. Engenheiro Vaz de Carvalho residentes no local.
A vida na povoaçãozita decorre placidamente naquele rengo-rengo próprio dos meios pequenos. Aqui há a ressaltar apenas dois miúdos, não é por que sejam marginais ou arruaceiros, nada disso, são traquinas como todos os seus companheiros de folguedos, mas... o seu comportamento tristonho é que difere muito da alegria das restantes crianças! Faltosos às aulas, com uma baixa frequência e com uma certa tendência para se isolarem. Talvez por a sua infância ter sido descuidada.
 As crianças têm que ser rodeadas de afecto carinhoso,” regaladas de apaparicos “ como dizia a minha avó, para que cresçam e o seu desenvolvimento seja pleno, só assim desabrocharão para a vida como pessoas de bem.
Era apenas isso que faltava ao Zé Lagarto, apelido por que era conhecido (gostava de apanhar sol) e daí a miudagem lhe chamar lagarto. E por lagarto era conhecido sem que se importasse com isso.
Era também o motivo idêntico do outro miúdo que era conhecido pelo Zé da Fisga, porque com a fisga era o terror da bicharada, nada resistia às pedras disparadas com aquela terrível arma que usava pendurada à cinta sempre pronta para mais um disparo. Os seus companheiros da brincadeira tratavam-no com um certo respeito, até porque eles em grupo iam para o campo e o Zé da Fisga caçava sempre uns pássaros para petiscarem: piscos, pardais, gaios, melros, umas vezes por outras rolas, e em momentos de sorte até perdizes, que depois de devidamente depenados, eram assados e comidos em meio de grande algazarra, devido ao esmiuçamento das muitas peripécias da caçada.
O Zé da Fisga vivia com a sua avó, senhora muito idosa já sem condições de tomar conta do neto, precisando mais que tomassem conta de si, mas… como a vida é cheia de dificuldades ela lá vai procurando amparar o neto, pois os pais do menino são vendedores ambulantes, fazem feiras e mercados pelo país fora, estando largos períodos sem vir a casa.
 O Zé Lagarto embora a sua situação fosse diferente também deixava muito desejar, a sua mãe morrera-lhe muito cedo, o pai, embora boa pessoa mas com o desgosto da perda da companheira, entregara-se à bebida descurando os cuidados com o filho. Os miúdos pelas circunstâncias descritas eram muito afeiçoados um ao outro tornando-se companheiros inseparáveis, unos para o que desse e viesse.

                                                              II

 Todas as povoações antigas têm um largo que funciona como terreiro para a realização das festas tradicionais, e na quadra natalícia, o lugar adequado para o madeiro ir ardendo lentamente, onde todos o vão atiçando para que o seu brasido seja permanente, a fim de os passantes poderem aquecer as mãos.
 Ora o lugarejo da Furnas não podia fugir à regra, só que neste largo existia uma vetusta oliveira, que pelo seu nodoso tronco indiciava ter umas largas centenas de anos. Sob a sombra da sua vasta fronde existiam umas rochas que funcionavam como cadeirões de privilégio, além de vários bancos de madeira, onde nos dias quentes do Verão acorriam os idosos do lugar, para aí dormitarem a sua sestazinha e ao mesmo tempo inteirarem-se dos mexericos do dia. Nas noites calmosas era ali que todo o mundo vinha fazer serão e cavaquear um pouco com os vizinhos.
Ora o Zé Lagarto e Zé da Fisga embora crianças, não eram propensas a cometerem tropelias, no entanto de vez em quando lá faziam as suas asneiras, vou aqui citar apenas duas, que as pessoas do lugar às vezes comentam à laia chacota.
Uma vez, ti Manel da Quinta numa tarde abrasadora do mês de Agosto estava sentado à sombra da oliveira do largo, curtindo uma grande cachimbada, meio a dormir meio acordado, não ligando patavina à conversa do restante pessoal que ali se encontrava. Eis que surge o miúdo Zé da Fisga, num relance vislumbra a maneira de pregar uma grande partida, sai disfarçadamente como se fosse dar uma volta e sem dar nas vistas esconde-se atrás do muro fronteiro, aproxima-se meio encoberto com uns arbustos, mete uma pedra na fisga e zás... uma fisgada no cachimbo do ti Manel da Quinta que até saltou pelos ares. Este ao sentir o cachimbo a desprender-se-lhe dos queixos acorda meio estremunhado sem saber o que tinha acontecido, completamente desorientado começa aos gritos, aí... Minha Nossa Senhora! Acudam que os céus estão a cair à terra! E dá por si esparramado no chão perante a galhofa geral.
Noutra altura, a tia Angelina, pelo meio tarde, regressava da horta montada na sua burrinha. Ao atravessar o largo, o Zé da Fisga disfarçadamente prepara a arma e num supetão dá uma fisgada numa orelha da burra, que de imediato começou aos pinotes atirando com a tia Angelina ao chão, ficando descomposta com o traseiro alvíssimo ao léu perante os olhares curiosos dos que se encontravam por perto. Ora… àquela hora, estava muita gente a descansar à sombra da oliveira, ao presenciarem a cena foi uma risada geral, mas sem se aperceberem dos porquês das upas da burra. A tia Angelina lá se levantou muito envergonhada e irritada esconjurando tudo e todos. Apanhou a burra que levou pela arreata, cabisbaixa foi para casa dando voltas à cabeça a pensar o que é que teria espantado um animal tão manso - sim! Uma coisa que nunca tinha acontecido!
                                                         
                                                                                            Henrique Mateus


                                     SETÚBAL ANTIGA