NÚCLEO DE POESIA DE SETÚBAL
JOGOS FLORAIS DE SETÚBAL 2013
PARA A JUVENTUDE
REGULAMENTO
1 – São admitidos a concurso trabalhos inéditos em língua
portuguesa nas seguintes modalidades:
POESIA
a)
QUADRAS – Tema e rima livres. Máximo de um conjunto de três
quadras por concorrente.
b)
SONETO – Tema livre.
c)
POEMA - de construção e tema livres, com um máximo de 25
linhas. Poderá ter a forma de letra para canção “rap”.
CONTO
Tema livre.
Máximo de 2 páginas em
formato A4 em letra “Times New Roman” tamanho 11.
2 – Os concorrentes
deverão ter menos de 25 anos de idade na data de envio dos trabalhos. Serão
divididos em duas categorias, conforme tenham mais ou menos de 14 anos.
3 – Os trabalhos serão
enviados exclusivamente por correio eletrónico para o endereço quebra.lemes@gmail.com,acompanhados do nome, idade, residência postal, número de
Bilhete de Identidade, número de telemóvel e declaração de que prescinde dos
direitos de autor em caso de publicação no boletim ou no blogue do Núcleo de
Poesia.
4 – Cada concorrente
poderá apresentar dois trabalhos por modalidade, devendo declarar se aceita ou
não o Acordo Ortográfico.
5 – O prazo de envio
dos trabalhos para concurso termina a 7 de abril de 2013.
6 – Não será
necessário pseudónimo. O membro da direção do Núcleo de Poesia que irá receber
os trabalhos concorrentes não fará parte do Júri. Atribuirá um número a cada
candidato e reencaminhará as mensagens para os elementos do Júri sem os dados
de identificação.
7 – O Júri será
constituído por três elementos indicados pela direção do Núcleo de Poesia.
8 – As classificações
serão tornadas públicas em 31 de Maio de 2013, sendo os concorrentes premiados
informados por “e-mail”.
9 – Haverá dois
prémios por modalidade em cada grupo etário. O Júri poderá ainda atribuir
Menções Honrosas, se assim o entender.
10 – Nenhum
concorrente poderá receber mais do que um prémio por modalidade.
11 – Não haverá recurso das decisões
do Júri.
12 – A entrega dos
prémios terá lugar em data e lugar a anunciar.
ALÉM SADO
A Ana Catarina é também neta do Henrique Mateus.
Tinha oito anos quando publicou este livrito
de poemas.
COISAS DA VIDA PARA PENSAR
Há coisas na vida, para pensar,
E muitas, que levamos a repetir,
Há as que só uma vez, podemos realizar!
Os mentirosos estão sempre a mentir,
E os vaidosos sempre se estão a gabar!
Mas nascer e morrer, só uma vez,
É o princípio e o fim, desta vida,
Nem que seja, pobre ou burguês!
Ainda que seja, curta ou comprida,
Seja africano, europeu ou chinês,
Comemos sempre, repetidamente,
Cuidando do corpo, para vivermos,
Alguns trabalham, exaustivamente!
Mas um dia, caímos estrondosamente!
Pensam que sempre; não morreremos,
Há os que estudam, e não tem educação,
Há os que são educados, sem estudar,
Muitos comem, com tanta satisfação!
Outros fazem dieta, para não engordarem,
Mas é bom ser instruído, com educação!
Tratemos o nosso semelhante, com cortesia,
Mandam as regras, da boa educação,
Porque a desgraça, pode chegar um dia!
Assim podemos, contar com sua proteção,
E não com uma promessa, vaga e vazia!
J. Rodrigues
EXPERIÊNCIA
Hoje deitei fora o sol
Esqueci o mar
Não quero a esperança
Não consigo sonhar
Abri a janela e deitei fora o mundo
Nele foi me a alma arrastada
Até a rosa que me olhava
Debruçada da jarra murchou
Teimosamente vou quebrando as horas
De uma maneira lenta e sofrida
Será com certeza para medir o tempo
Talvez ele assim renda menos para mim
E a tua ausência não passe duma utopia
Maria Helena Freire
Hoje deitei fora o sol
Esqueci o mar
Não quero a esperança
Não consigo sonhar
Abri a janela e deitei fora o mundo
Nele foi me a alma arrastada
Até a rosa que me olhava
Debruçada da jarra murchou
Teimosamente vou quebrando as horas
De uma maneira lenta e sofrida
Será com certeza para medir o tempo
Talvez ele assim renda menos para mim
E a tua ausência não passe duma utopia
Maria Helena Freire
GENEROSOS
Com o dinheiro do Estado
Assistem, por caridade,
Mantendo o povo domado
Com o dinheiro do Estado
Assistem, por caridade,
Mantendo o povo domado
Para usarem à
vontade.
Educam sectariamente
À base de verbas estatais
Mantendo firme a corrente
De interesses sectoriais.
Não produzem nenhuns bens,
Mas são sempre detentores
De sortidos armazéns
De bem palpáveis valores.
Mau grado o seu estridor
Em projectos "generosos"
Cá, a pobreza é maior
Que onde não há "caridosos".
Se alguém quer dar por direito,
Dispensando a caridade,
Fica o dador contrafeito
E desaba a tempestade:
Os meios intoxicantes
Entram todos em histeria
Orientando os votantes
Para outra freguesia...
Educam sectariamente
À base de verbas estatais
Mantendo firme a corrente
De interesses sectoriais.
Não produzem nenhuns bens,
Mas são sempre detentores
De sortidos armazéns
De bem palpáveis valores.
Mau grado o seu estridor
Em projectos "generosos"
Cá, a pobreza é maior
Que onde não há "caridosos".
Se alguém quer dar por direito,
Dispensando a caridade,
Fica o dador contrafeito
E desaba a tempestade:
Os meios intoxicantes
Entram todos em histeria
Orientando os votantes
Para outra freguesia...
Francisco Pratas
ALÉM SADO
Que vejo
Além Sado
na
planície em sol nascente?
Campo
fértil trabalhado
outro mar
navegado.
Sentir de
povo diferente!
Num olhar
puro
espreitando
Rio no espraiar...
há terra
dando a mão;
sonhando
com o futuro,
sempre no
acreditar,
beijando
saudoso chão.
Renova
inverno rigoroso
com chuva
a gracejar,
namorando
a primavera;
alimenta
o florir
até
chegar o verão.
Traz
calor ardiloso -
noites
rubras ao luar
...acende
chama à paixão.
Segue
outono em arpejos
folhas
secas no cair,
atento a
novos desejos.
Brancas
salinas, verdes montados,
que no
sul estão crescendo;
quantos
berços iluminados,
em belos
cantos aconchegados
no barco
da vida...vão vencendo.
Inácio J. M. Lagarto
INFINITO PODER DO PENSAMENTO
O meu cérebro percorreu como
louco
As profundezas das infinitas
galáxias
Etéreo sonho este, o de encontrar
Um paraíso, em vez da Via Láctea.
Veloz pensamento, mais veloz que
tudo
Mais veloz até que o próprio
vento
Nada há mais subtil
Que este comando cerebral
Um dom divino e real
De sair até do espaço, do
horizonte
Do bem e do mal.
Pensar, querer, idealizar
Ter, porque se pensou e se agiu
Percorrer o espaço sideral
Tentar apanhar uma nuvem
E dela fazer uma cama astral
Para que além do espírito
Também o corpo possa percorrer
No azul do céu
O que não há de azul no mar.
Maria Dores Amado
ESPAÇOS E SORRISOS
São espaços, são sorrisos,
Sorrisos entre os espaços,
Espaços entre os sorrisos.
Sorrisos parecendo traços,
Espaços breves e lisos,
Sorrisos um pouco escassos.
Espaços quase indivisos,
Sorrisos vagos e baços,
Espaços muito indecisos,
Sorrisos de curtos passos,
Espaços um tanto imprecisos.
Sorrisos aos quilos, aos maços,
Espaços já mais incisivos,
Sorrisos já mais devassos,
Espaços agora concisos,
Sorrisos puros e crassos,
Espaços finalmente precisos,
Trazendo sorrisos nos braços.
Arnaldo Ruaz
AGORA VEJAM ESTA FAMÍLIA!
UM AMIGO
O que é ter um amigo? Já me questionei
sobre isto inúmeras vezes.
Naturalmente, um amigo é alguém com quem
podemos contar incondicionalmente; com quem podemos partilhar as nossas mágoas
e alegrias.
Mas não é sobre estas “frases feitas” de
que vos quero falar hoje. Para mim, um amigo é muito mais que isso. Um amigo é
aquela pessoa que, mesmo conhecendo os nossos maiores defeitos e fragilidades,
continua a gostar de nós; é aquela pessoa com quem temos longas conversas, nas
quais o assunto nunca se esgota; é aquele que assiste às nossas quedas na
primeira fila, mas que, quando o pano desce, é o primeiro a levantar-se para ir
ter connosco. Um amigo nunca diz “eu bem te avisei” – para ele é mais importante
abraçar-nos e chorar connosco. Um amigo conhece as nossas parvoíces de cor, mas
acha-lhes sempre piada.
O que há mais para dizer? Um amigo é o
nosso eterno cúmplice. Sabemos que se trata de uma amizade verdadeira quando o
silêncio é algo reconfortante.
Alguém disse que um sonho é só um sonho
quando o sonhamos sozinhos, mas quando o sonhamos com os nossos amigos, começa
a tornar-se real.
Ao longo da nossa vida criamos várias
amizades, umas mais fortes e duradouras que outras.
Quem nunca criou uma amizade que julgou
ser eterna mas que, com o passar dos anos, se acabou por perder? Quem nunca
mais viu um amigo com quem viveu alguns dos momentos mais felizes da sua vida?
As amizades vão perdendo a intensidade
com o passar do tempo. Cabe-nos a nós tentar preservar as que consideramos mais
importantes e genuínas. A chave para a eternidade baseia-se na diferença entre
o perdão, a paciência e o respeito e o orgulho, o comodismo e a desconfiança.
Quantas amizades não acabaram pela incapacidade de reconhecer que se errou?
Temos que confiar nos nossos amigos como
confiamos nas palmas das nossas mãos. Na verdade, eles são das pessoas que mais
nos querem bem.
Ana Cunha
18/01/2013
A Ana Catarina é também neta do Henrique Mateus.
Tinha oito anos quando publicou este livrito
de poemas.
CONTO
(Primeira parte)
I
O lugarejo de Vale
das Furnas situa-se algures na falda Sul da Serra de Grândola. É um lugar
isolado longe de tudo, onde vive uma comunidade numerosa cuja actividade
é trabalhar a terra. Uns trabalham o seu chão cuja área é suficiente para daí
suprirem as suas necessidades. Outros trabalham à jorna nas herdades da
vizinhança.
Lugar de gente
boa, capaz de despir a camisa para ajudar alguém em apertos como sói dizer-se e
quando nos referimos à pacatez da humildade das pessoas; aqui, funciona o
espírito da interajuda para vencer a crueza do isolamento.
Se não conseguir
localizar o lugar não se aflija, porque toda a história é pura ficção assente
na imaginação do autor.
O lugarejo tem
comércio, escola primária, e também uma ermida de arquitectura simples que,
praticamente só abre as portas para a missa dominical, cuja nave fica
literalmente cheia, porque toda a população é devota.
A criançada é
numerosa e frequenta a escola com assiduidade, onde lecciona a professora D.
Leopoldina, casada com o Sr. Engenheiro Vaz de Carvalho residentes no local.
A vida na
povoaçãozita decorre placidamente naquele rengo-rengo próprio dos meios
pequenos. Aqui há a ressaltar apenas dois miúdos, não é por que sejam marginais
ou arruaceiros, nada disso, são traquinas como todos os seus companheiros de
folguedos, mas... o seu comportamento tristonho é que difere muito da alegria
das restantes crianças! Faltosos às aulas, com uma baixa frequência e com uma
certa tendência para se isolarem. Talvez por a sua infância ter sido
descuidada.
As crianças têm que ser rodeadas de afecto
carinhoso,” regaladas de apaparicos “ como dizia a minha avó, para que cresçam
e o seu desenvolvimento seja pleno, só assim desabrocharão para a vida como
pessoas de bem.
Era apenas isso
que faltava ao Zé Lagarto, apelido por que era conhecido (gostava de apanhar
sol) e daí a miudagem lhe chamar lagarto. E por lagarto era conhecido sem que
se importasse com isso.
Era também o
motivo idêntico do outro miúdo que era conhecido pelo Zé da Fisga, porque com a
fisga era o terror da bicharada, nada resistia às pedras disparadas com aquela
terrível arma que usava pendurada à cinta sempre pronta para mais um disparo.
Os seus companheiros da brincadeira tratavam-no com um certo respeito, até
porque eles em grupo iam para o campo e o Zé da Fisga caçava sempre uns
pássaros para petiscarem: piscos, pardais, gaios, melros, umas vezes por outras
rolas, e em momentos de sorte até perdizes, que depois de devidamente
depenados, eram assados e comidos em meio de grande algazarra, devido ao
esmiuçamento das muitas peripécias da caçada.
O Zé da Fisga
vivia com a sua avó, senhora muito idosa já sem condições de tomar conta do
neto, precisando mais que tomassem conta de si, mas… como a vida é cheia de
dificuldades ela lá vai procurando amparar o neto, pois os pais do menino são
vendedores ambulantes, fazem feiras e mercados pelo país fora, estando largos
períodos sem vir a casa.
O Zé Lagarto embora a sua situação fosse
diferente também deixava muito desejar, a sua mãe morrera-lhe muito cedo, o
pai, embora boa pessoa mas com o desgosto da perda da companheira, entregara-se
à bebida descurando os cuidados com o filho. Os miúdos pelas circunstâncias
descritas eram muito afeiçoados um ao outro tornando-se companheiros
inseparáveis, unos para o que desse e viesse.
II
Todas as povoações antigas têm um largo que
funciona como terreiro para a realização das festas tradicionais, e na quadra
natalícia, o lugar adequado para o madeiro ir ardendo lentamente, onde todos o
vão atiçando para que o seu brasido seja permanente, a fim de os passantes
poderem aquecer as mãos.
Ora o lugarejo da Furnas não podia fugir à
regra, só que neste largo existia uma vetusta oliveira, que pelo seu nodoso
tronco indiciava ter umas largas centenas de anos. Sob a sombra da sua vasta
fronde existiam umas rochas que funcionavam como cadeirões de privilégio, além de
vários bancos de madeira, onde nos dias quentes do Verão acorriam os idosos do
lugar, para aí dormitarem a sua sestazinha e ao mesmo tempo inteirarem-se dos
mexericos do dia. Nas noites calmosas era ali que todo o mundo vinha fazer
serão e cavaquear um pouco com os vizinhos.
Ora o Zé Lagarto
e Zé da Fisga embora crianças, não eram propensas a cometerem tropelias, no
entanto de vez em quando lá faziam as suas asneiras, vou aqui citar apenas
duas, que as pessoas do lugar às vezes comentam à laia chacota.
Uma vez, ti
Manel da Quinta numa tarde abrasadora do mês de Agosto estava sentado à sombra
da oliveira do largo, curtindo uma grande cachimbada, meio a dormir meio
acordado, não ligando patavina à conversa do restante pessoal que ali se
encontrava. Eis que surge o miúdo Zé da Fisga, num relance vislumbra a maneira
de pregar uma grande partida, sai disfarçadamente como se fosse dar uma volta e
sem dar nas vistas esconde-se atrás do muro fronteiro, aproxima-se meio
encoberto com uns arbustos, mete uma pedra na fisga e zás... uma fisgada no
cachimbo do ti Manel da Quinta que até saltou pelos ares. Este ao sentir o cachimbo
a desprender-se-lhe dos queixos acorda meio estremunhado sem saber o que tinha
acontecido, completamente desorientado começa aos gritos, aí... Minha Nossa
Senhora! Acudam que os céus estão a cair à terra! E dá por si esparramado no
chão perante a galhofa geral.
Noutra
altura, a tia Angelina, pelo meio tarde, regressava da horta montada na sua
burrinha. Ao atravessar o largo, o Zé da Fisga disfarçadamente prepara a arma e
num supetão dá uma fisgada numa orelha da burra, que de imediato começou aos
pinotes atirando com a tia Angelina ao chão, ficando descomposta com o traseiro
alvíssimo ao léu perante os olhares curiosos dos que se encontravam por perto.
Ora… àquela hora, estava muita gente a descansar à sombra da oliveira, ao
presenciarem a cena foi uma risada geral, mas sem se aperceberem dos porquês
das upas da burra. A tia Angelina lá se levantou muito envergonhada e irritada
esconjurando tudo e todos. Apanhou a burra que levou pela arreata, cabisbaixa
foi para casa dando voltas à cabeça a pensar o que é que teria espantado um
animal tão manso - sim! Uma coisa que nunca tinha acontecido!
Henrique Mateus