O Núcleo de Poesia de Setúbal
prossegue tranquilamente o seu trabalho. O plano de atividades para o próximo
ano já se encontra esboçado.
Decorrem atualmente diligências
para se tentar conseguir a cedência de um espaço próprio que nos sirva de sede.
O nosso próximo almoço-convívio
realiza-se no dia 1 de dezembro no salão do Clube Desportivo "Os Amarelos". Estão a ser desenvolvidos esforços para se
poder antecipar para essa data a distribuição do número novo do Boletim.
A direção do Núcleo congratula-se
com o facto de terem sido lançados em menos de um mês dois livros de associados.
A. T.
UM BÊBADO
É o vinho meu bem
A coisa que mais adoro,
O resto pouco me importa.
Ás vezes faz-me perder o tino,
Outras errar a porta,
Ficando sem saber onde
moro,
Só por beber mais um copo!
Umas vezes ando para trás
Outras de carreirinha p’rá frente
Ou de lado p’rá esquerda
P’rá direita! Não! e não!
Reprovo esse pendor
Posso pender para qualquer lado
Mas p’rá direita! Não! Não! e Não!
É só o que faltava?
Bêbado sim! Mas parvo não!
Logo de manhã vão umas
goladas
Para começar bem o dia.
Ficando a andar aos zig zagues
E até trocando a perna.
Caindo desajeitado,
E ficar mesmo de gatas,
Ranhoso e com ramelas!
Até mesmo sem elas,
Faça ou não reboliço,
Ninguém tem nada com isso!
Mas p’rá direita! Não! Não! Não!
Tenho o prazer de beber
Faço-o com satisfação
Só para me entreter.
Ás vezes mesmo a cair,
Baralhando as palavras sem sentido
Sinto-me valentão.
Mas cair p’rá li!... Uma ova!
Há dias andei de sapato na mão
Muito direito e aprumado
Já um tanto agastado
Mas sem um ai ou lamento,
A ditar meu testamento.
Quero levar uma garrafinha
Para ter por perto a pinguinha
Fiquem desde já a saber
Que vou continuar a beber
Lá do outro lado.
E depois de finado
Também exijo, quero!
Um funeral a sério
E ir de caixão p’rá cova!
Henrique
Mateus
Sei de uma cidade
Sei de uma cidade
Onde o azul do céu se mistura com o rio
E a lua brilha com mais prazer
Reflectindo os sonhos pedidos às estrelas
Nas águas tranquilas noites a fio
Sei de uma cidade
Que é uma aguarela de cores sortidas
Com ruas, praças e um grande jardim
E flores vistosas que perfumam o ar
Ao lado do grandioso Estádio do Bonfim
Sei de uma cidade
Que dorme no regaço de uma serra mãe
E desperta com o cheiro da maresia
Espreguiça-se na areia das praias
Sente a brisa fresca que nos inebria
Sei de uma cidade
Onde o jovem Bocage o mundo conheceu
E em versos inspirados a vida cantou
Noutro bairro bem típico também nasceu
Luísa Todi que a todos encantou
Sei de uma cidade
Onde o povo sofrido pelas lides do mar
Se tornou artista em momentos de dor
Alguns têm busto como o Calafate
Outros são memórias, com muito valor
Sei de uma cidade
Que me albergou com o seu manto salgado
Me acarinhou e me viu crescer
O seu nome é Setúbal, de alcunha sadina
É nela que eu quero para sempre viver!
Ivone Vilares (13/10/2011)
É haver Amor-perfeito!...
A discórdia no casal,
Nunca dará boa “boda”,
Mas coerência conjugal,
Dá “perfume” à casa toda!
Se perfeito amor não há,
E o que parece não é real;
Sua consequência será
A discórdia conjugal!
Se o embate se intromete,
Tudo e nada os incomoda;
Mesmo que haja “banquete”,
Nunca dará boa “boda”!
Se houver amor no peito,
Irradiando por igual;
Haverá amor-perfeito
E coerência conjugal!
Quando existe harmonia
“Entoando a mesma moda,”
O aroma que irradia,
“Perfuma” a casa toda!
Luís Francisco Chainho – 02.07.2012
Enviaram-me, via Internet o anuário do Liceu Diogo Cão de 1958-59.
Vinha lá este soneto meu. Quando o escrevi, tinha 15 anos.
SERENATA
Palpita uma guitarra, na emoção
Dum fado ameno, suave, doce e lento
Enquanto sob o estrelado firmamento
Se ergue o triste cantar dum coração.
Serenata! Ao luar uma canção
Sobe, paira nos ares por um momento
E depois, arrastada pelo vento
Desaparece, rumo à imensidão…
E os ecos da toada, já perdidos
Lá bem longe, nas ruelas da cidade
Lembram trovas de amor, longos gemidos.
Aureos tempos, alegre mocidade!
Anos dos sonhos longos, esquecidos
─ uma capa, um amor ─ felicidade.
António Trabulo
António Trabulo
VERBO UNIR
Setembro, dia vinte e dois,
Dois mil e doze corria,
Antes de almoço e depois,
Viva o Núcleo de poesia!...
Na serra de São Luís,
No Terreiro da capela,
A poesia fez feliz
Muitos que vibram com ela.
Depois fomos aos bombeiros
E no seu bom restaurante
Parabéns aos cozinheiros
Por uma ementa brilhante!
Logo a seguir actuaram
Exímios declamadores
E mais que todos brilharam
Deliciosos cantores:
Acácio Nunes, Zé Quintas,
Manuel Guerra, guitarristas,
São, sem carregar nas tintas,
Assinaláveis artistas.
Mais convívios hão-de vir
E voltarão a provar
Que a força do verbo unir
Está aí para durar!...
Francisco Pratas
SETÚBAL ANTIGA
Fotografia de Américo Ribeiro
OS NOSSOS POETAS
Alexandrina Pereira dispõe de um currículo literário pouco comum. É tão vasto que será necessário resumi-lo. Publicou 5 livros de poesia (dois dos quais destinados a crianças) e um de crónicas. Recebeu 46 prémios de Melhor Letra em festivais da canção infantil. Obteve por 6 vezes o prémio de Melhor Letra da Grande Marcha da cidade de Setúbal. Foi agraciada com diversas medalhas de honra.É Obra!
RETRATO DE SETÚBAL
A minha cidade
adormeceu…
Doce candura
envolta em maresia
Ao olhar o rio
que tem a cor do céu
Acorda sorrindo
para um novo dia
Lava o rosto
nas águas do Sado
Toma um café
ali, nas Fontainhas
Mais acordada
vai para o mercado
Toda vestida de
algas marinhas
Pede ao
pescador sentado no cais
Um pouco da
rede que ele acaricia
Os pombos
enfeitam todos os beirais
Enquanto Bocage
escreve Poesia
Vai ao
miradouro e fica sentada
Recorda saudosa
suas brincadeiras
A faina do mar
já vai avançada
Por entre o
bailar das suas traineiras
E fica Setúbal
tão linda, tão bela
Entre
laranjeiras perfumando a terra
É casa
branquinha de uma só janela
Onde a brisa
entra com odores da Serra.
Alexandrina
Pereira
POEMA PARA A PAZ NO MUNDO
Os poetas reuniram-se com caracter de urgência.
É preciso decidir como iremos intervir para deter a violência !
É tempo de construir muralhas de amor e fé
É URGENTE quebrar armas e moldar flores nas ruas
Dos
sorrisos das crianças fazer
renascer esperanças.
É
URGENTE reunir! É
URGENTE decidir!
E
porque há democracia... chamaram a
Poesia.
Reuniu
muitos poetas e
pediu opiniões
ordenou-lhes
que escrevessem a
todos os corações
redigiu
tantos decretos em
nome de tanta
gente
e em todos
decretou: Parar a
guerra é URGENTE!!
Ficou
então decidido que
as armas se
calariam
que se escreveriam
versos com as
pontas dos canhões
que se fariam
mais pontes para
ficarmos mais perto
que o amor
seria oásis no
longínquo deserto
que os aviões
ao passarem, deixariam
cair rosas
que
seriam como folhas
de poemas e
de prosas
que as crianças
não sofriam porque
o ódio terminou
E finalmente
aprendiam que
o amor triunfou.
E as
palavras dos poetas
reunidos de emergência
formaram
versos sem rima
condenando a violência .
A
Poesia ficou mais
bela, forte e
segura
porque
à guerra apresentou
esta MOÇÃO DE
CENSURA!
Alexandrina Pereira
DICAS SOBRE O ACORDO ORTOGRÁFICO
Dissemos aqui que,
independentemente da opinião que qualquer um de nós tenha sobre o acordo, seria bom conhecê-lo. Foi adotado nas escolas e é utilizado pelos nossos filhos e
netos.
O que salta primeiro à vista no
Novo Acordo é a supressão das chamadas consoantes mudas, isto é, já não
pronunciadas. Passou a escrever-se direção em vez de direcção e ótimo em vez de
óptimo.
Os nomes dos meses do ano e dos
pontos cardeais passaram a escrever-se com inicial minúscula. É o caso de
janeiro, fevereiro, norte e sul.
Vamos apresentando poucas dicas de
cada vez, para não maçar os leitores.
A.T.
A Lenda do Moinho dos Escaravelhos
Ainda existem ruínas desta azenha
na ribeira de São Domingos, concelho de Santiago do Cacém. É um lugar muito
ermo, de grandes brenhas, longe de tudo.
Consta que em tempos muito recuados
junto a essa ribeira, havia um cruzamento de caminhos e ao lado existia um
terreno aplanado onde não crescia mato nem ervas. Nesses tempos… dizia-se, até
com algum temor, que este espaço era o eirado onde, nas noites de sexta-feira,
as bruxas da região se reuniam em grandes convívios e aí praticavam toda a
casta de bruxarias acolitadas pelos lobisomens.
Ora, acontece que três inveterados
caçadores de javalis foram caçar para o lugar, instalando a sua comitiva no tal
eirado, transformando-o no seu acampamento. A caçada foi de tal maneira boa que
resolveram pernoitar aí, para no dia seguinte recomeçarem a caçar.
Ao pôr-do-sol acenderam uma
fogueira, improvisaram bancos de pedra e pensaram em comer qualquer coisa; como
farnel tinham apenas vinho, pão e chouriço.
Fizeram alguns espetos de varas do
mato circundante e começaram a assar o chouriço, mal este começou a pingar nas
brasas, levantou-se um vento do demónio, que fazia rodopiar pó e areia pelo ar.
Os caçadores e seus acompanhantes
mal podiam abrir os olhos para ver se o chouriço estava ou não assado, assim
que o punham entre as fatias de pão, este desaparecia e no seu lugar ficavam
escaravelhos.
O Diabo, que estava de guarda ao
eirado das bruxas, querendo correr com os intrusos, adoptou para isso este
estratagema. A notícia correu e o lugar ficou conhecido pelo sítio dos
escaravelhos.
Mais tarde foi construída a azenha
que herdou o nome, e era conhecida pelo Moinho dos Escaravelhos, de que hoje
existem apenas alguns vestígios.
Nota: Esta lenda foi construída com
pequenos fragmentos (que são o esqueleto deste texto) extraídos da oralidade
das pessoas mais idosas do lugar, alguns até meus familiares. Eu era
adolescente na altura e estes relatos impressionaram-me tanto que volvidos
muitos anos os passo para o papel, para que não se percam como memórias do
Povo.
Sem comentários:
Enviar um comentário