O CANTO DOS POETAS
NOTÍCIAS CULTURAIS
SOMÍTICOS
Culpar TODOS os políticos
Pelos golpes dos somíticos
Que roubam para os seus grupos
É de gente de bons ares,
Mas sonham com salazares
E só merecem apupos!...
Esses doutos papagaios
São lançados como raios
Pelas comunicações
Para criar um clima
Para nos porem em cima
As suas vis soluções.
Soluções apodrecidas,
Tristemente conhecidas
No Chile, Portugal, Espanha...
Sem contar o holocausto
Que o capital nefasto
Mostrou bem na Alemanha!
Dar valor a quem trabalha
É que esta podre canalha
Não quer nem ouvir falar,
Porque isso é progressismo,
O que soa como um sismo
Em quem vive de usurpar!...
Francisco Pratas
COMO VAI O MUNDO!
Neste mundo alienado,
Há uma confusão total,
O homem quer ser notado!
Apenas é pobre coitado,
Um dia será esquecido afinal!
Em cada dia vai perdendo,
Seu nome e personalidade,
Vai-se aos poucos corrompendo!
Coisa que não entendo,
Porque usa tanta maldade!
Cada dia vai piorando,
Tornando-se exímio traficante,
Vida incerta vai levando!
Com ignomínia usando,
E os pés no lodo fincando!
Desde menino aprende,
Naquilo que está rodeado,
Então até sua alma vende!
A venda nada lhe rende,
Acabando por ser apanhado!
Trafica drogas e influência,
Tem ambição desmedida,
Usa a malévola experiência!
Esquece o sentido da decência,
Passa pela vida numa corrida!
J. Rodrigues
Fui ver a Nau Catrineta
Pouco tinha que contar
Encalhada na Fuzeta
Mal se lembrava do mar.
Passava mais de ano e meio
E ninguém ia pescar
A CEE deu dinheiro
Para não se navegar.
Todo o peixe era importado,
Só nos restava pagar.
A nossa costa é bem grande,
Deixámos de lá mandar.
Por mais sortes que se deitem
Muito nos custa lembrar
Os tempos em que éramos donos
Do nosso próprio pensar.
Acima, acima, gajeiro!
Acima ao tope real!
Vê se enxergas um rumo
Para o nosso Portugal!
António Trabulo
HERÓI PÓSTUMO
Terra negra
De sangue vermelha
Exaurida … centelha.
Um último suspiro,
Restos de um sopro de vida
Ar que falta, ar que não
chega!
Aquele abafado grito
Da morte que se aproxima.
Lá longe, muito longe
Na fímbria do horizonte
Os sinos estão a tanger.
Aqui tocam-se trombetas!
Ouve-se uma voz forte
Ressaibada de dor, amarga
Em funeral!...arma!!!
Ficam em riste as baionetas
A exorcizar a morte.
Sombras dum sonho que agora
desfalece
Ao cair por terra, nosso
berço
Balas que rasgaram aquele peito
Sacrifício supremo, que nada
merece.
Agora…Paz à sua alma.
Henrique Mateus
CANÇÃO DE JOAQUIM MARRAFA
SETÚBAL ANTIGA
FÁBRICA DE CONSERVAS
FREI AGOSTINHO DA CRUZ
Agostinho Pimenta
nasceu em Ponte da Barca (Ponte Lima) no dia 3 de Maio de 1540, filho de
fidalgos da casa dos duques de Aveiro, onde foi criado em ambiente
profundamente religioso. Ainda moço passou ao serviço de D. Duarte, neto de D.
Manuel que residia em Lisboa. Agostinho passou a sua adolescência na capital
familiarizando-se com mundos muito diferentes daqueles em que foi criado, que
pouco a pouco o foram marcando e assim, abrindo campo ao misticismo e ao
propenso afastamento da vida mundana, descrente nos propósitos dos homens que
considerava ficarem muito aquém da imagem de Deus.
Aos 20 anos era um jovem imberbe mas, onde
já despontava uma forte personalidade; sem influências, tomou a decisão de
tomar hábitos e seguir os ditames de S. Francisco.
No dia 3 de Maio de 1560, dia do seu
vigésimo aniversário, iniciou o seu noviciado na Ordem de “ Povorelo “ sediada
no Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra, adoptando o nome conventual de
Frei Agostinho da Cruz, onde permaneceu até 3 de Maio de 1561 data em que
transitou para a Ordem de S. Francisco ingressando no convento da Arrábida como
frade capucho, e ai permaneceu em clausura até ao dia 3 de Maio de 1605 dia de
S. José “ sempre a data do seu nascimento. “ Altura em que os seus superiores
lhe concederam licença para se isolar e viver em completa solidão, fazendo vida
de eremita. Tinha então 65 anos. Prontamente subiu a serra e passou a habitar
uma pequena cela que os Duques de Aveiro lhe mandaram construir para o efeito,
desprovida de qualquer conforto, mas para sua satisfação íntima, mais perto de
Deus.
Aqui ressalta o seu
querer de asceta místico que através do isolamento nas brenhas da serra procura
imitar Cristo, a sua alma exalta-se como se depreende da sua vasta obra poética
que nos legou.
Aqui escreveu os seus mais belos sonetos,
elegias, éclogas, odes e muitas cartas: Um acervo volumoso segundo os seus
estudiosos. Teixeira de Pascoais, Aguiar e Silva, Mendes Remédios e Maria
Eugénia Ferreira, todos publicaram trabalhos com opiniões diferentes, mas
todos concordantes de que Frei Agostinho foi um grande lírico na poesia do
misticismo, onde mostram claramente o lugar único que este poeta ocupa na
História da Literatura Portuguesa.
Na
cela onde viveu 14 anos em completa solidão dedicado à reflexão e penitência,
quantas vezes encostado a ela, ou sentado nas pedras circundantes sob o céu
azul ou das estrelas refulgentes, Frei Agostinho olhava o horizonte, dum lado o
rio Tejo que galgava montes e vales desde a Serra de Albarracim, em frente a
foz do rio Sado cujo fio serpenteava através dos campos até às serranias do Algarve,
mirava e remirava as águas de ambos, sem ver nelas qualquer rasto dos navios
que por ali passaram, e certamente que teriam sido alguns milhares desde
os primórdios da humanidade. De certeza que pensou no sofrimento por que muitos
dos seus tripulantes passaram, principalmente os seus escravos remadores, na
altura a força impulsionadora das galés. Quantas orações Frei Agostinho dedicou
às suas almas? Não se sabe.
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Frei Agostinho da Cruz martirizado por
tanta penitência e já com 79 anos, adoeceu com febres violentas. Foi socorrido
com internamento na enfermaria da vila de Setúbal, mas, o seu corpo fisicamente
fragilizado e já sem forças, não aguentou a disputa, vindo a falecer na noite
de 14 de Março de 1619.
Frei Agostinho deixou muita coisa escrita,
mas sobre si muito pouco ou nada e dai as muitas opiniões contraditórias dos
seus estudiosos. Muito já se escreveu sobre si, mas quase tudo baseado na
suposição, devido aos dados serem escassos e, provavelmente muito ainda se irá
escrever, porque o seu espólio incendeia paixões.
Uma coisa é certa porque Frei Agostinho
entrou na vida monacal, a desilusão com o comportamento dos homens que
maldosamente feriam a sua sensibilidade, isso depreende-se dos seus escritos: É
provável, que a par, também tivesse existido alguma paixãozita romanesca não
correspondida, mas que não é saliente na sua poesia.
Da sua vida conventual, ficaram registos
feitos pelos seus companheiros de clausura, portanto fidedignos.
Dos progenitores de Frei Agostinho também
muito pouco ou nada se sabe. Há registos dum seu irmão, Diogo Bernardes também
lírico, que apresenta queixas muito idênticas às suas, mas que não se decidiu
seguir os caminhos do seu irmão.
No ano de 1605 Frei Agostinho foi
nomeado guardião do Convento de S. José de Ribamar “ hoje situado na
área da freguesia de Algés, concelho de Oeiras “, há registos de que
aceitou as funções mas... como as pôde exercer? Se praticava a clausura no
convento da Arrábida! E a partir do dia 3 de Maio do mesmo ano? Data em que
obteve licença para empreender vida eremítica! São decisões contraditórias às
práticas religiosas da altura!
Da Contemplação da Serra da Arrábida
Dos solitários
bosques a verdura
Nas duras penedias
sustentada
Nesta Serra, do mar
largo cercada
Me move a contemplar
mais fermosura.
Que tem quem tem na
terra mor ventura,
Nos mais altos estados
arriscada,
Senão tem a vontade
registada
Nas mãos do Criador da
criatura?
A folha que no bosque
estava
Em breve espaço cai,
perdida a flor
Que tantas esperanças
sustentava.
Por isso considere o
pecador
Se, quando na pintura se enlevava
Não se enlevava mais no seu pintor.
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À Lei de Deus
Que mais suave, doce,
e branda,
Que nos liberte mais,
que mais releve,
Que guardar uma Lei,
na vida breve,
De um Deus, que por
amor nos manda?
Qual é o coração que
não se abranda,
Duro que pedra mais, frio
que neve,
Suave o jugo seu, a carga
leve,
Pois ela pende toda à sua
banda?
Inda que a alma ditosa não
lograra
O que, na guarda dela,
está tam certo,
Com isso só ficava
satisfeita:
Quanto mais com tam cedo
ver tam clara
Aquela luz divina tam
perto,
Por quem é nada tudo o que
se enjeita!
Henrique Mateus
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